Como o Chiclete Pode Bloquear as Músicas Grudentas da Nossa Mente: Uma Análise Científica
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Introdução
Muitas pessoas já passaram pela experiência de ter uma música repetitiva presa em suas cabeças, conhecida popularmente como "earworm" ou "verme de ouvido". Este fenômeno pode ser agradável para alguns, mas extremamente incômodo para outros. Um estudo interessante conduzido por C. Philip Beaman, Kitty Powell e Ellie Rapley da Universidade de Reading, publicado em 2015, explora um método inusitado para bloquear esses "earworms": mastigar chiclete. Vamos analisar os principais achados dessa pesquisa.
O Que São os "Earworms"?
Os "earworms" são fragmentos musicais que se repetem involuntariamente na mente de uma pessoa. Eles frequentemente envolvem músicas familiares ou recentemente ouvidas, como observado por Beaman e Williams em 2010. Embora para alguns esses pensamentos musicais possam ser bem-vindos, para outros eles se tornam altamente intrusivos, impactando a capacidade de concentração e até causando desconforto emocional.
Por que Mastigar Chiclete Poderia Funcionar?
A pesquisa explora a hipótese de que mastigar chiclete interfere na programação motora articulatória – os movimentos que usamos para falar. Essa interferência pode reduzir tanto os pensamentos musicais voluntários quanto os involuntários. Estudos anteriores, como os realizados por Andrade et al. (1997) e Baddeley & Andrade (2000), demonstraram que a estimulação sensorial específica pode reduzir a vividez de imagens auditivas e visuais. Por exemplo, fazer movimentos oculares específicos pode tornar imagens visuais emocionalmente carregadas menos vívidas.
Experimentos e Resultados Principais
O estudo inclui três experimentos distintos para testar essa hipótese:
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Experimento 1: Chiclete vs. "Earworms"
- Objetivo: Avaliar se mastigar chiclete diminui a frequência de pensamentos musicais involuntários.
- Método: 44 estudantes universitários foram expostos a uma música (“Play Hard” de David Guetta) e depois instruídos a não pensar nela por três minutos enquanto mastigavam chiclete ou não. Foram instruídos a pressionar uma tecla sempre que a música viesse à mente.
- Resultados: Os participantes que mastigaram chiclete relataram menos pensamentos musicais do que aqueles que não mastigaram. Isso sugere que a mastigação interferiu na "audição" mental da música.
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Experimento 2: Diferenciação de Pensamentos Musicais
- Objetivo: Determinar se a redução dos pensamentos musicais com o chiclete se deve à interrupção de "ouvir" a música mentalmente ou apenas pensar nela abstratamente.
- Método: 18 estudantes foram instruídos a relatar separadamente quando pensavam na música e quando "ouviam" a música em suas cabeças.
- Resultados: A mastigação de chiclete reduziu significativamente a experiência de "ouvir" a música, sugerindo que o efeito é mais sobre bloquear a audição interna do que o pensamento abstrato sobre a música.
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Experimento 3: Controle de Atividade Motora Geral
- Objetivo: Testar se a interferência observada era específica para a mastigação ou aplicável a qualquer atividade motora.
- Método: Incluiu uma condição onde os participantes deveriam tamborilar os dedos, comparando com a mastigação de chiclete e uma condição sem distração.
- Resultados: A mastigação de chiclete foi mais eficaz em reduzir os "earworms" do que o tamborilar dos dedos, sugerindo que a interferência é específica para a programação motora articulatória.
Discussão Geral e Conclusões
Os dados sugerem que a mastigação de chiclete pode ser uma maneira prática de reduzir "earworms". A atividade parece interferir com a programação motora articulatória, essencial para a "audição" interna da música, sem criar uma carga cognitiva adicional que geralmente prejudica a supressão de pensamentos. Isso diferencia o efeito da mastigação de chiclete de outras técnicas que envolvem multitarefa ou cargas cognitivas mais intensas.
Os achados levantam questões interessantes sobre a ligação entre a memória auditiva imediata e a programação motora, além de sugerirem potenciais aplicações práticas. Embora ainda haja muito a explorar sobre como diferentes tipos de conteúdo musical podem interagir com essa técnica, o estudo abre caminho para novas formas de lidar com pensamentos indesejados.
Implicações Práticas
Se você é uma das muitas pessoas que se incomodam com músicas grudentas, pode considerar manter um chiclete por perto. Ao contrário de outras técnicas, como resolver anagramas, mastigar chiclete é uma solução prática e acessível que pode ser usada em praticamente qualquer situação.
Conclusão
A mastigação de chiclete, ao interferir na programação motora articulatória, pode ser uma solução eficaz para bloquear músicas intrusivas na mente. Este estudo revela como simples ações cotidianas podem influenciar processos cognitivos complexos, oferecendo alívio para aqueles que desejam se livrar de músicas repetitivas e não desejadas.
Link Para o Artigo Completo: https://www.researchgate.net/publication/275279254_Want_to_block_earworms_from_conscious_awareness_Buy_gum
FAQs
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O que são "earworms"? "Earworms" são músicas ou melodias que se repetem involuntariamente na mente de uma pessoa.
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Como o chiclete ajuda a bloquear "earworms"? Mastigar chiclete interfere na programação motora articulatória, dificultando a "audição" interna da música.
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Todos os tipos de atividade motora ajudam a bloquear "earworms"? Não, o estudo mostrou que apenas atividades que envolvem a programação motora articulatória, como mastigar chiclete, são eficazes.
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Por que esse estudo é relevante? Ele fornece uma solução prática para um problema comum e explora novas maneiras de entender a relação entre memória auditiva e controle motor.
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Quais são as limitações do estudo? A eficácia do chiclete pode variar dependendo do tipo de música e das características individuais de cada pessoa.