O Impacto do Conteúdo Pró-Anorexia no TikTok sobre a Imagem Corporal e a Internalização dos Padrões de Beleza: Uma Análise Detalhada

Introdução

Nos últimos anos, o TikTok emergiu como uma das redes sociais mais populares, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Essa plataforma, que permite a criação e compartilhamento de vídeos curtos, rapidamente se tornou um espaço onde tendências globais de beleza e saúde são estabelecidas e difundidas. No entanto, a mesma plataforma também abriga conteúdos potencialmente prejudiciais, como vídeos que promovem práticas alimentares desordenadas e padrões irreais de beleza, muitas vezes associadas ao movimento pró-anorexia (pro-ana).

O estudo realizado por Madison R. Blackburn e Rachel C. Hogg, publicado em 2024, busca preencher uma lacuna na literatura científica ao examinar o impacto específico do conteúdo pró-anorexia do TikTok na satisfação corporal e na internalização dos padrões de beleza sociais entre mulheres jovens. O estudo também explora a correlação entre o tempo diário gasto no TikTok e o desenvolvimento de comportamentos alimentares desordenados.

Contexto e Relevância do Estudo

A cultura digital moderna, especialmente em plataformas visuais como o TikTok, é caracterizada pela disseminação de padrões de beleza cada vez mais inatingíveis. Vídeos que promovem a magreza extrema como ideal de beleza, conhecidos como conteúdos pró-anorexia, tornaram-se comuns e acessíveis a milhões de usuários. Esses vídeos, muitas vezes disfarçados como "inspiração fitness" ou "dicas de dieta", podem ter um impacto significativo na saúde mental de usuários jovens, exacerbando problemas como a insatisfação corporal e os transtornos alimentares.

Estudos anteriores demonstram que a exposição repetida a imagens de corpos idealizados pode aumentar a insatisfação corporal e incentivar comportamentos alimentares prejudiciais. No entanto, poucos estudos se concentraram especificamente no TikTok, cuja página "Para Você" (#ForYou) apresenta um fluxo constante de conteúdo personalizado que pode incluir, intencionalmente ou não, vídeos pró-anorexia. Este estudo visa investigar esses impactos e oferecer uma compreensão mais profunda dos efeitos psicológicos do uso do TikTok.

Metodologia do Estudo

O estudo utilizou um design experimental e transversal, envolvendo 273 mulheres jovens com idades entre 18 e 28 anos. As participantes foram divididas aleatoriamente em dois grupos:

1. Grupo Experimental: Exposto a uma compilação de vídeos do TikTok com conteúdo explícito pró-anorexia, incluindo dicas de perda de peso extrema, restrição alimentar, e "humor negro" relacionado a comportamentos alimentares desordenados.

2. Grupo Controle: Exposto a vídeos neutros, sem conteúdo relacionado a aparência física, como cenas de natureza, animais, culinária e comédia.

Cada participante foi avaliada antes e após a exposição aos vídeos quanto à satisfação corporal e internalização dos padrões de beleza usando escalas validadas, como a Body Image States Scale (BISS) e o Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire (SATAQ-4). O estudo também coletou dados sobre o tempo diário médio gasto no TikTok e a relação com comportamentos alimentares desordenados, utilizando o Eating Attitudes Test (EAT-26) e o ORTO-15.

Resultados e Discussão

1. Redução Significativa na Satisfação Corporal

O estudo revelou que as mulheres expostas ao conteúdo pró-anorexia apresentaram uma redução significativa na satisfação com a própria imagem corporal após a exposição, em comparação com aquelas que visualizaram conteúdo neutro. Esse achado está em linha com a Teoria da Comparação Social de Festinger (1954), que sugere que as pessoas tendem a avaliar a si mesmas em comparação com outras. A exposição a corpos magros e mensagens de perda de peso no TikTok pode ter levado as participantes a fazer comparações sociais ascendentes, resultando em uma diminuição da satisfação corporal.

Além disso, o grupo controle, que visualizou conteúdo neutro, também mostrou uma diminuição na satisfação corporal, embora em menor grau. Isso sugere que até mesmo a exposição a conteúdo aparentemente inócuo pode influenciar a autoimagem, possivelmente devido à natureza repetitiva e visualmente estimulante do TikTok.

2. Aumento na Internalização dos Padrões de Beleza Sociais

O estudo também constatou que as mulheres expostas ao conteúdo pró-ana relataram um aumento significativo na internalização dos padrões de beleza sociais, comparado ao grupo controle. A internalização refere-se ao grau em que as pessoas adotam normas e ideais de beleza promovidos pela sociedade como um padrão pessoal de beleza. Esta internalização pode levar ao desenvolvimento de comportamentos alimentares prejudiciais na tentativa de alcançar tais padrões.

Estudos anteriores, como o de Mingoia et al. (2017), já haviam sugerido uma forte correlação entre o uso de redes sociais e a internalização do ideal de magreza. No entanto, o presente estudo estende esses achados especificamente ao TikTok, demonstrando que a exposição a conteúdos pró-ana, mesmo que breve, pode aumentar significativamente a internalização desses padrões em usuárias jovens.

3. Impacto do Tempo Diário de Uso do TikTok nos Comportamentos Alimentares

Embora houvesse uma expectativa de que um maior tempo diário de uso do TikTok estivesse associado a comportamentos alimentares mais desordenados, o estudo não encontrou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de diferentes tempos de uso. No entanto, as participantes classificadas como usuárias de alto ou extremo uso diário relataram escores médios de comportamento alimentar desordenado próximos ao limite clínico (escore de 20 no EAT-26).

Esses achados sugerem que, embora o tempo gasto no TikTok possa não ser um fator determinante por si só, o tipo de conteúdo consumido é crucial para entender os impactos sobre a saúde mental e os comportamentos alimentares. Isso aponta para a necessidade de maior regulação do conteúdo disponível na plataforma e conscientização dos usuários sobre os riscos potenciais.

Implicações para a Saúde Mental e Recomendações

Os resultados deste estudo destacam a necessidade urgente de medidas para proteger os jovens usuários das redes sociais dos efeitos negativos associados à exposição a conteúdos pró-anorexia. Entre as recomendações possíveis estão:

• Implementação de Filtros de Conteúdo: Plataformas como o TikTok poderiam melhorar seus algoritmos de filtragem para identificar e bloquear conteúdos que promovem práticas alimentares desordenadas.

• Educação e Conscientização: Campanhas educativas dirigidas a jovens e pais sobre os riscos associados ao consumo de conteúdos tóxicos nas mídias sociais.

• Intervenções Terapêuticas: Inclusão de programas de prevenção e intervenção que abordem a relação entre o uso de mídias sociais e a saúde mental nas escolas e universidades.

Conclusão

O estudo oferece evidências claras de que o conteúdo pró-anorexia no TikTok pode ter efeitos negativos imediatos na satisfação corporal e na internalização de padrões de beleza irreais entre mulheres jovens. Embora o tempo de uso da plataforma por si só não seja um fator determinante, o tipo de conteúdo consumido tem implicações significativas para a saúde mental. Portanto, é crucial promover um uso mais seguro e consciente das redes sociais, combinando esforços de regulação com educação e conscientização.

Link do Artigo Completo: https://journals.plos.org/plosone/article/authors?id=10.1371/journal.pone.0307597

FAQs (Perguntas Frequentes)

1. O que é o conteúdo pró-anorexia (pro-ana)?

Conteúdo pró-anorexia, ou pro-ana, refere-se a material online que promove, glamouriza ou normaliza comportamentos relacionados a transtornos alimentares, como a anorexia nervosa. Esses conteúdos podem incluir dicas extremas de perda de peso, rotinas de exercícios excessivos, e imagens de corpos extremamente magros como ideais de beleza.

2. Como o TikTok pode influenciar a imagem corporal e os comportamentos alimentares?

O TikTok, através de seu algoritmo personalizado e do uso de vídeos curtos e visuais, pode expor repetidamente os usuários a conteúdos que promovem padrões de beleza irreais ou práticas alimentares prejudiciais. Essa exposição constante pode levar à insatisfação corporal, internalização de padrões de beleza, e, em casos extremos, ao desenvolvimento de transtornos alimentares.

3. Por que é importante entender o impacto das redes sociais na saúde mental?

Entender o impacto das redes sociais na saúde mental é crucial para desenvolver estratégias de intervenção e prevenção eficazes. Jovens e adolescentes são especialmente vulneráveis a influências externas, e o consumo frequente de conteúdo prejudicial pode ter efeitos negativos duradouros em seu bem-estar psicológico e físico.

4. O tempo gasto no TikTok é sempre prejudicial?

Não necessariamente. O tempo gasto no TikTok pode ser utilizado de maneira saudável, dependendo do tipo de conteúdo consumido. No entanto, a exposição prolongada a conteúdos que promovem padrões de beleza irrealistas ou práticas prejudiciais pode ter um impacto negativo na saúde mental.

5. O que posso fazer para minimizar os efeitos negativos do TikTok?

Para minimizar os efeitos negativos do TikTok, recomenda-se:

• Controlar o tempo de uso da plataforma.
• Escolher seguir criadores que promovam conteúdo positivo e saudável.
• Evitar interagir com vídeos que promovam padrões de beleza irreais ou comportamentos alimentares desordenados.
• Utilizar ferramentas de controle parental ou de bem-estar digital.